Diário de Campo – 28/12/2014



Diário de Campo – 28/12/2014: Eram 2h40min quando acordei sem o despertador, embora pudesse voltar a dormir mais um pouco, não o fiz. Então, tratei logo de preparar o que faltava para mais um dia de campo, se bem que tudo já estava organizado desde a noite anterior. Os mantimentos que seriam entregues estavam dentro do carro, bem como o binóculo, máquina fotográfica, bússola, pederneira, botas, mochila e roupas. Restava pegar os frios, frutas e água. Oração feita, hora de partir até a casa do Hudson G. Santos (fotógrafo de natureza). Havia marcado de estar na casa dele às 4h30min.

Depois, retornando a casa de meus pais, aguardamos a chegada do Jardel Roscamp (professor e pastor da Primeira Igreja do Evangelho Quadrangular).

Pausa! Por que estou descrevendo o que fazem as pessoas que participaram desta etapa de reconhecimento de campo? Para mostrar que o projeto que idealizo, pode envolver profissionais de todas as áreas e pessoas de todas as classes, pois cada um pode trazer contribuições importantes para algo que não tem como alvo, ser simplesmente um projeto de pesquisa de uma determinada espécie.

Este dia, também não seria apenas para poder avaliar uma nova área, mas para assistir alguns moradores locais. Verdadeiramente, era o principal objetivo do dia.
Após seguir pela BR 277, entramos na Estrada da Limeira, curiosamente na imagem do Google, ela aparece como Rodovia Governador Mário Covas???
Visivelmente havia sinais de que havia chovido bastante naquela região, uma vez que a estrada estava bem pior que em outros tempos.
O Hudson alegrou-nos no caminho, compartilhando suas experiências vividas fotografando animais, como onças e harpias. Entretanto, naquele dia, ele iria viver uma experiência diferente de mochileiro, levando mantimentos para pessoas que nunca viu.

Foi com este espírito que deixamos o carro, as margens de um afluente do Rio Canavieiras.
Tira bota coloca bota, e o Jardel já estava do outro lado do rio. Pior para nós, quero dizer, eu e o Hudson, que tivemos que fazer a travessia carregando um engradado cheio de alimentos.
Mas feita a divisão em três, as coisas ficaram mais fáceis e felizmente não tivemos que carregar tudo até o final da trilha, pois a pessoa a quem seria entregue, estava passando os dias numa casa mais próxima. Quando falo felizmente, preciso acrescentar que mesmo sendo um pouco mais de 8 horas (horário solar), estávamos transpirando como nunca com o calor que já estava fazendo.
Os mantimentos, mais uma vez foram fornecidos pela Ação Social da Primeira Igreja do Evangelho Quadrangular (DEIXO MEU MUITO OBRIGADO A AÇÃO SOCIAL E A PRIMEIRA IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR). Foram entregues ao Adenisio e sua irmã Anselma. Ele mora juntamente com sua mãe, um de seus irmãos e a caçula da família, que calculo que tenha entre dois anos e meio a três (não estava presente). Sua irmã Anselma, estava ali para passar o final de ano juntamente com os dois filhos e esposo. Em determinado momento, achei que estava entregando os mantimentos a uma família errada, pois havia uma pick up, logo ao lado. Posteriormente, ficamos sabendo que pertencia a dona de toda área.  Com a permissão da família, o Pastor Jardel conduziu uma oração a Deus para abençoar a todos daquela casa. Também aproveitamos para entregar uma Bíblia a Anselma, que mesmo sendo evangélica, disse não possuir um exemplar da Palavra de Deus (OBRIGADO AO PASTOR JOSIEL, QUE FEZ A DOAÇÃO DE VÁRIAS BÍBLIAS PARA SEREM ENTREGUES).

Após um período de conversas, descobrimos que a comunidade daquela região, Limeira – Município de Guaratuba, é constituída por vários parentes. Também, obtive a informação de que alguns gaviões haviam sido vistos no dia anterior, mas pelas descrições se tratavam de carijós (Rupornis magnirostris). Plantada a semente, hora de partir, ficando para outra oportunidade conhecer a cachoeira que é uma das atrações do local.

Próxima parada uma área no lado oriental do Rio Cubatãozinho.

Gavião-pega-macaco




Eram pouco mais de 9h00 o céu estava azul, com o sol brilhando e a temperatura subindo. No horizonte vários urubus voavam nas correntes térmicas. Enquanto o Jardel e o Hudson falavam, passei a prestar cada vez mais atenção no céu. Encontrávamos no meio de um vale com montanhas distantes à direita, na esquerda, havia uma plantação de bananeiras, o rio Canavieiras e outra cadeia de montanhas. Repentinamente observei uma silueta por frações de segundos, suficiente para meu cérebro dizer que era de gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus). Avancei o veículo, procurando uma fresta entre as folhas das bananeiras, e finalmente, gritei: ― É um gavião-pega-macaco!
Parando o carro, desci e pedi pelo binóculo, tratando logo de acompanhar o vôo lento, característico da espécie. Meus companheiros continuaram dentro do carro, inertes com o calor. Mas conforme eu chamava-lhes a atenção, eles foram descendo vagarosamente. Entreguei a máquina fotográfica ao Hudson e o binóculo para o Jardel, explicando-lhe como diferenciar o Spizaetus tyrannus dos urubus. 

― Ah! Estes dois não podem entender como me senti ao ver aquele gavião. Porém, talvez possa explicar usando as palavras escritas por Wilson (1992):


― “Ninguém olha duas vezes para um pardal ou um esquilo, e nem uma única vez para um dente-de-leão; mas um falcão-peregrino ou um leão-das-montanhas são experiências marcantes na vida.”
Ainda:
― “Os carnívoros superiores, incluindo águias, tigres e os grandes tubarões brancos, devido à posição que ocupam no ápice da teia alimentar, estão predestinados a ser grandes em tamanho e escassos em número. Eles vivem com uma parcela tão diminuta da energia disponível para a vida que estão sempre costeando o limiar da extinção, sendo os primeiros a sofrer quando o ecossistema ao seu redor começa a se deteriorar.”
Continuei acompanhando o gavião, que voava na frente de um morro. Depois, ele passou para uma área entre o morro e uma montanha maior (ver foto, para melhor compreensão do local). Em determinado momento ele ganhou mais altura, sempre sobrevoando a mesma região, vindo a ser perdido de vista entre as copas das árvores. Horário do contato 9h24min.

Retornamos para o carro e prosseguimos até chegarmos à margem do Rio Cubatãozinho. Iríamos fazer uma caminhada atravessando o rio a pé. O Hudson preferiu ficar. Então, seguimos somente eu e o Jardel. Cruzamos o rio Cubatãozinho em dois trechos, caminhando sobre o leito pedregoso. Antes de começarmos a caminhar dentro da mata, aproveitamos para molhar a cabeça.
― Que delícia poder se refrescar em um rio de águas limpas! Também, cheio de peixes.
Vale registrar que contemplamos uma praia com areia, muito boa para levar a família e amigos. Entretanto, isto deve ser feito em dias de tempo bom, pois em dias de chuva, as águas que descem pelas encostas da Serra da Prata devem fazer tudo submergir.
Posteriormente, andando por uma trilha, encontramos mais um pequeno rio repleto de lambaris, pequenos cascudos e outras espécies, ideal para uma pesca com varinha.
Enquanto olhávamos, um senhor veio caminhando em nossa direção, era o Sr. Renê. Após conversarmos um pouco, ele acabou nos conduzindo até a casa do Sr. Alfredo, responsável pela propriedade. No caminho, tivemos que atravessar mais dois rios largos, o maior deles é conhecido como Rio dos Henrique.
Com tantos rios, eu e o Jardel desistimos de ficar tirando as botas para atravessar, e, acabamos entrando na água do jeito que estávamos. 
Quando chegamos à casa do Sr. Alfredo, ficamos sabendo que no período das chuvas (verão), há o risco de ficar ilhado. Prova disto era uma marca na parede que se estendia como uma linha, mais ou menos, à altura de 1,60metros. Ela foi feita durante uma enchente, que trouxe além de muitas águas, algumas serpentes como jararacas e jararacuçus.
Também ficamos sabendo que à noite, uma onça-parda circula pelas trilhas que passamos (observamos uma pegada no caminho). Quanto aos gaviões, foi dito que os grandes ocorrem com baixa freqüência, sendo alguns brancos. Serão os Spizaetus melanoleucus? 
Interessante que eu, ao descrever um gavião-de-penacho, o Sr. Alfredo mencionou que já o havia visto, porém, falou cinza, muito grande. Não pode ser uma águia-cinzenta, mas se não for invenção, seria uma harpia? Quem sabe? Seja como for, o importante é que obtivemos permissão para regressar, inclusive para pescar lambaris.

Embora não tenha encontrado nenhum ponto alto e aberto, para observar as aves de rapina, certamente vou querer voltar, pasmem, para pescar lambaris.
Regressamos, cansados e exauridos pelo forte calor, o Hudson já estava preocupado, pois acabamos passando um pouco do horário marcado. O atraso deveu-se ao tempo conversando com o Sr. Alfredo, sua esposa e o Sr. Renê, além das muitas pausas para refrescar a cabeça nas águas dos rios. 
No caminho para a BR 277, pegamos chuva e em certo momento, um raio caiu sobre uma encosta bem acima do veículo. Também, avistamos galhos caídos sobre a estrada. Já no asfalto, a caminho de Morretes, deparamos com mais árvores caídas e folhas espalhadas, sinal de que um vendaval havia atingido a região. Grato Jesus, por nos guardar de acidentes! 
Nossa aventura estava chegando ao final, mas não poderíamos deixar de tomar sorvete na localidade de São João da Graciosa, e conversar com o Sr. Jorge. Yara Toyoshima, estamos virando fregueses da sorveteria!

Agradeço ao Senhor Jesus, por mais esta oportunidade de levar avante o reconhecimento das áreas para o Projeto de Pesquisa das Aves de Rapina da Serra do Mar Paranaense e por poder entregar mantimentos a mais uma família e semear sua Palavra com gestos e oração. Agradecimentos, também, a Mariamar Silva, pastor Josiel da Silva Martins, pelos incentivos. Também, aos companheiros desta viagem, Hudson G. Santos e Jardel Roscamp. OBRIGADO JESUS!


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Diário de Campo - 21/12/14




Diário de Campo - 21/12/14 - Esta foi uma fase de campo diferente do habitual, com fim voltado a assistência social. A saída de Curitiba ocorreu as 8h00, com a participação do Pr. Jardel Roscamp. Seguimos pela BR 116 até a entrada da Rodovia da Graciosa, que já estava com uma fila de carros a partir do Portal. A intensa movimentação de veículos refletiu no comportamento da Avifauna. A sinfonia, registradas nas viagens anteriores estava ausente, o silêncio era rompido somente por uma ou outra sábia-una (Turdus flavipes) e tangara (Chiroxiphia caudata). A orquestra, audível, era do deslocamento dos veículos sobre os paralelepípedos da Graciosa.



Na localidade de São João da Graciosa, fizemos uma breve parada para saborear os famosos pastéis de palmito das barraquinhas. Entretanto, eu mesmo, optei por um de pizza.
Seguindo em frente, ao chegarmos no Centro de Morretes, pegamos a Estrada do Anhaia, parando somente no nosso destino principal, a casa do Sr. Divino. Ele é um morador local, que vive em um casebre de madeira por mais de 30 anos. Seus filhos e filhas, às vezes, ficam com ele, ou então, vão para outras cidades vizinhas, como Matinhos. Neste domingo, entretanto, ele estava só. 
Encontramos o Sr. Divino na estrada, cerca de 200metros de sua casa. Provavelmente, se demorássemos mais um pouco, não o encontraríamos, visto que ele estava indo para um campo de futebol onde estava ocorrendo um campeonato local.
Quando mostrei as coisas que íamos lhe entregar, ele ficou surpreso e preocupado, perguntando: - Quanto vai me custar tudo isto?
Explicamos que a cesta básica e os diversos sacos contendo roupas, sapatos e brinquedos foram doados pela Ação Social da Primeira Igreja do Evangelho Quadrangular de Curitiba (EXPRESSO MINHA GRATIDÃO A AÇÃO SOCIAL E A PRIMEIRA IEQ). Aquilo não custaria nada e era uma retribuição pelo seu gesto quando me ofereceu uma fruta (condessa – muito parecida com o araticum) em uma viagem anterior. 
Alegre, ele tentou de todas as formas retribuir, cortando vários cachos de bananas de sua pequena propriedade, banana-ouro, banana-da-terra, banana-maça e etc, que foram colocados no porta-malas do Fiesta.
- Pr. Jardel, já fritou as bananas-da-terra? Ah! Você também esqueceu as raízes de açafrão-da-terra!
Mas ainda não tínhamos encerrado, entreguei-lhe uma Bíblia do Adolescente, que era para sua filha de dezoito anos, ausente. Também solicitei a permissão para fazermos uma oração pela sua vida e família que foi bem recebida.

Com este gesto, plantamos uma semente que ao seu tempo dará frutos pela Graça do Senhor.
Prosseguimos conversando, e entre as coisas que contou, estava o fato de uma caninana circular dentro da sua casa. Embora não seja venenosa, não gostaria de ter uma cobra andando solta dentro de minha casa. Todavia, talvez seja melhor ter ela e evitar a presença de jararacas, comuns na Serra do Mar.


Uma vez que o objetivo desta fase de campo não era de fazer reconhecimento, ou tentar visualizar as aves de rapina de grande porte, despedimo-nos do Sr. Divino e iniciamos uma caminhada até a Cachoeira da Fortuna, localizada dentro do Parque Estadual do Pau Oco.
Logo no início (10h37min – horário solar), avistei um gavião-bombachinha (Harpagus diodon) que começava a subir numa térmica, indo em direção a Rodovia 277 (deslocamento Nordeste-Sudoeste).
Dentro do parque, passamos pela casa do guarda-parque e fizemos o preenchimento de um cadastro. Este questionário permite a administração da unidade de conservação conhecer o perfil do visitante, além de controlar o número de pessoas na trilha e dar alguma segurança a elas. Caso o visitante não retorne e saia por onde entrou, alguém irá atrás dele.

A trilha, bem aberta, facilitou nossa caminhada, mas a subida exigiu esforço e devido ao calor não foi necessário mais do que 200 metros para ficarmos com as camisas encharcadas de suor.
A placa na entrada da Unidade de Conservação dizia que o percurso é de 40 minutos, foi mais ou menos o que levamos para chegar ao final dela, aparentemente.
Deparamos com um rio largo, porém, onde estava a cachoeira? A foto que vi na internet, era bem diferente, mostrando uma piscina natural e uma queda relativamente grande. Ainda tentamos seguir subindo o que parecia ser a continuidade da trilha, mas nada. Apenas serviu para eu pegar um punhado de micuins (larva de carrapatos) na altura dos tornozelos (Foto). Estas larvas ficam presas nas folhas e quando um animal ou humano passa, eles grudam no futuro hospedeiro.
Somente quem passou pela experiência de pegar micuins, sabe a coceira que causam. Então, vai a dica: Usem Calamed (mesma composição do Caladryl) utilizado para queimaduras solares, brotoejas, alergias e etc, traz alívio a coceira. Passar álcool não é tão eficiente quanto dizem.
Sem querer entrar na água para verificar se havia algum caminho na outra margem, retornamos para o carro.



Chegando próximo ao centro de Morretes, fizemos uma parada no Restaurante do Sato, mas encontramos preços um tanto caros, por exemplo, R$ 36,90 para um prato que servia arroz, filé, fritas e salada. A melhor opção foi ir ao Rota do Sol.
Depois, passamos na casa do Sr. Jorge, na localidade de São João da Graciosa. Estava ansioso em obter informações sobre o possível ninho de gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), vide relato do dia 14/12/2014, mas o Sr. Jorge não conseguiu fazer contato com o responsável pela área. De qualquer forma deu as dicas para chegarmos na propriedade e com quem falar. Então, fomos lá, encontrando o Cleomar, com quem conversei e mostrei algumas fotos de aves de rapina. Ao ver uma foto do falcão-peregrino (Falco peregrinus) disse que aquele não havia ali. Isto deu certa credibilidade ao que falava (falcão peregrino, ocorre em área abertas e evitam as regiões de vegetação densa - florestas). Outro rapaz, Jaime, comentou que sabe onde tem um ninho com um filhote branco, mas disse que eu não vou conseguir permissão para entrar na propriedade, visto pertencer a um político. Aqui, duas coisas interessantes, primeiro o fato de mencionar um (1), via de regra, não se desenvolve mais de um filhote nas espécies do gênero Spizaetus. Outro detalhe é a cor mencionada, branco. Caso fosse um ninhego de poucos dias, ele não teria como ver e saber a cor do filhote, a não ser que subisse e olhasse o interior do ninho. Portanto, se o filhote já for grande, então, pode ser mesmo um Spizaetus.
Mas há outra hipótese, tudo não passar de invenção carregada pelo exceto de álcool ingerido. Afinal, garrafas e latas de cerveja não faltavam em cima de algumas mesas, onde estavam os entrevistados.
Quanto a entrar na propriedade em que nos encontrávamos, obtivemos a permissão. Após cerca de meia-hora inspecionando o local, observamos apenas um gavião-bombachinha (Harpagus diodon), entretanto, pelo ambiente ao redor, sai com a certeza de que os grandes gaviões florestais podem ser observados ali.
Agradeço a Jesus e a ajuda recebida da Ação Social e da Primeira Igreja do Evangelho Quadrangular, que forneceu a cesta básica e as roupas que foram entregues ao Sr. Divino. Também a companhia do Pr. Jardel Roscamp e seus comentários sobre a semeadura no Reino de Deus. OBRIGADO JESUS!


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Gavião-pato (S. melanoleucus) - Candonga

Primeira foto por Willian Menq, tirado na Candonga, indivíduo jovem, observar barras pretas nas rêmiges primárias e secundárias, . Segunda foto por Hudson G. Santos, próximo ao centro de Morretes, indivíduo adulto.

Portanto, a melhor hipótese para o registro dos dois indivíduos observados na Candonga (Douglas, Willian e Jessica) era de um adulto com o filhote.


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Diário de campo - 14/12/14




14/12/2014 – A noite de sábado, com o céu carregado de nuvens e relâmpagos, não era animadora para quem estava se preparando para descer a serra na madrugada de domingo. Entretanto, após uma noite com poucas horas de sono, o alarme avisava que eram 4h05min. Sem hesitação comecei a reunir as coisas, já separadas anteriormente, para sair. Estava atrasado, restando uma única opção, ligar avisando o Kauê (Biólogo-mestrando, que faz pesquisas com felinos) que não ia conseguir pegá-lo no horário combinado. 



Depois de encontrar o Kauê, deslocamo-nos para Santa Felicidade, onde iramos encontrar o Jardel Roscamp (Professor e Pastor da Primeira IEQ).
Equipe reunida e feita as apresentações, seguimos para Morretes pela Rodovia 277 e posteriormente pela Estrada da Candonga, onde uma pavimentação nova em folha fez sentir que estávamos andando sobre um tapete. No entanto, quando o asfalto terminou começamos a sacolejar de tal maneira que o Jardel se viu embalado em um sono, como uma criança.



Conforme avançávamos a paisagem foi se alterando gradativamente, passando de uma vegetação alterada para uma mata secundária. Havia sinais nítidos das chuvas que caíram nos últimos dias, pelas condições da estrada e a presença de algumas árvores caídas. Primeiro foi uma embaúba atravessada, que retiramos facilmente com as mãos. Porém, na segunda não houve jeito a não ser deixarmos o veículo e continuar a pé.



Antes, aproveitamos para fazermos um rápido desjejum, constituído de pão com mussarela, algumas frutas e COCA-COLA. Assim, que queremos perder a barriga...
Percorremos uns 300metros até chegarmos ao Rio Lajeado, onde tivemos que entrar na água para cruzá-lo. Nestas alturas, o Kauê já ficara para trás, pois saía da estrada para entrar na mata em busca de sinais da presença de felinos, onças principalmente (pintada e parda). Assim, somente eu e o Jardel prosseguíamos juntos.
Cruzamos um segundo rio, onde deparamo-nos com o Sr. Rogério, que nos deu algumas informações. Posteriormente chegamos as margens do Rio Canasvieiras, encontrando uma ponte pênsil para atravessá-lo (foto).


O local que chegamos tinha algumas construções em madeira (casa, barracão, galinheiro), todas bem cuidadas, assim como o gramado aparado. Diferente daquilo que imaginei olhando as imagens de satélite, não havia um bananal, mas uma plantação de pupunha (Bactris gasipaes) naquela área. Tudo muito bonito, mas ainda faltava o que queria, um ponto elevado com boa vista da vegetação ao redor.  Vimos um caminho entre a plantação que parecia levar para um lugar mais alto. Seguimos e aos poucos íamos subindo, quando virei, fiquei maravilhado com a paisagem, cadeias de montanhas para todos os lados. Estavam encobertas pelas nuvens baixas, mas eram visíveis (infelizmente a foto não capta as montanhas ao fundo). 

Ficamos posicionados de frente para o Sudoeste, deixando nas nossas costas uma vegetação alta com árvores chegando aos 20metros, onde um grupo grande de periquitos-ricos (Brotegeris tirica) emitiam seus gritos estridentes, numa verdadeira algazarra. 
Expliquei ao Jardel que precisava de locais como aquele, com ampla visão, e então, era hora de esperar na esperança que algum gavião aparecesse. Mais do que isto, esperava que o céu limpasse e me permitisse ver melhor toda a região. No entanto, a situação parecia que ia piorar. Começou uma leve garoa que em certos momentos se intensificou.

Enquanto contava meu testemunho com as aves de rapina no Japão (açores – Accipiter gentilis), o Jardel, virando-se para o lado Sudeste, falou: - Douglas, e o que é aquilo?
No momento em que ele falava, já estava escutando um alarme muito grande dos periquitos-ricos. Ao virar e olhar para cima, observei um gavião-pato (Spizaetus melanoleucus) indo de Sudoeste para Sudeste, pouco acima das copas. Os periquitos-ricos voavam agrupados descrevendo círculos.
Na narração do Jardel, eles perseguiam o gavião. Entretanto, aquele balé, pareceu-me mais uma forma de atordoar o predador para dificultar-lhe a captura. Mas escutei atentamente a narrativa do Jardel, que avistou primeiro o gavião: - O gavião veio voando baixo (Sudeste-Sudoeste) e os periquitos levantaram vôo, saindo atrás do gavião. Automaticamente, lembrei-me da foto do Leonardo Patrial, tirada em 16/05/2010, em Itacará – BA, publicada no Wikiaves, onde um gavião-pato persegue um grupo de Eupsittula aurea (periquito-rei). Willis (1988), também descreveu ter observado um gavião-pato mergulhando sobre um bando de Diopsittaca nobilis (maracanã-pequena), na Estação Ecológica da Serra das Araras – MT, em 27/jul/1987. Todas estas observações sugerem que Spizaetus melanoleucus tenha uma inclinação em caçar os psittacídeos (entre os psittacídeos, encontramos, araras, papagaios, baitacas, periquitos e etc.) de pequeno e médio porte.
O gavião, retirou-se de nossa vista, mas ainda o veríamos entre as 10h00-10h10 min. sobrevoando em círculos acompanhado de um gavião-tesoura (Elanoides forficatus). Sumiu, dirigindo-se para Sudeste direção de onde fez sua primeira aparição.
Este indivíduo pode ser um daqueles observados anteriormente, por mim, William Menq e Jessica Moraes do Nascimento. 

O dia estava ganho, mas havia de vir mais, através de informações sobre um ninho de gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus) e outros locais de sua ocorrência.



Voltamos a encontrar o Sr. Rogério, caseiro daquela propriedade onde estávamos. Entre as coisas que nos falou, uma chamou minha atenção, o fato de poder pegar cascudos com as mãos debaixo das pedras do Rio Canasvieiras.  Meu pai contou que fazia isto, quando ia ao Rio Laranjinha nas cercanias de Bandeirantes e Santa Maria, norte do Paraná. Embora muitos ainda pesquem no rio Laranjinha, hoje, ninguém acreditaria que alguém pudesse pegar cascudos com as mãos em suas águas.

Quanto aos gaviões, o Sr. Rogério não mostrou ser a pessoa ideal para obter informações. Por quê? Porque, disse que o único gavião grande (branco) que freqüentava a área foi observado por ele, cerca de dois anos atrás. Mas em duas horas que passamos naquele local, vimos um gavião-pato. Minha conclusão é que o Sr. Rogério não é o tipo de pessoa que costuma prestar atenção no que está voando.
Hora de voltar, encontramos o Kauê, parado no meio da estrada, conversando com um funcionário da Copel (Genilson). Também, com um grupo de jipeiros, que arrastaram parcialmente o tronco de árvore que impediu nossa progressão com o Fiesta, ao chegarmos.
Após mais de 1 hora, chegamos ao centro de Morretes, onde comemos no restaurante Rota do Sol. Indico o restaurante para quem quiser comer sem pagar o valor exorbitante dos locais tradicionais. Com R$ 26,90 é possível comer a vontade do Buffet, que serve camarão frito, peixe, pirão de peixe, carne de frango, almôndegas, saldas, arrroz, macarrão, feijão, etc.
Nossa próxima parada foi à feirinha, que oferece vários produtos artesanais produzidos no município. A praça central, a beira do Rio Nhundiaquara, estava com os Flamboyant (Delonix regia) floridos, embelezando o clima pitoresco da cidade. 

Retornando ao assunto principal, depois de saborearmos um sorvete de gengibre (produto local) fomos conversar com o Sr. Jorge. Inicialmente, porque ele avistou uma onça parda (Puma concolor), também conhecida pelos nomes de suçuarana e puma, no dia 6 de dezembro.
Quando perguntei sobre gaviões grandes, o Sr. Jorge, respondeu logo: - Tem o penacho, neste local da onça, também. Inclusive, no ano passado tinha um ninho dele na propriedade ...
Fui pegar algumas fotos, para verificar se o gavião que estávamos falando, tratava-se mesmo do Spizaetus ornatus. Confirmado pelo Sr. Jorge, ele passou a descrever alguns comportamentos de forrageamento, que ouvi o Sr. D (caçador, mencionado no diário do dia 07/12/14) falar, além de uma terceira pessoa (entrevistado na Estrada da Limeira). Incrível, se realmente é o gavião-de-penacho, ele está se beneficiando de uma atividade humana!???
Vou registrar narrativas passadas.

Antes de encontrar o S. ornatus, na Fazenda São João do Bom Retiro, município de Abelardo Luz – SC (1999), um dos funcionários da fazenda, contou a respeito de um gavião marrom, grande, bravo, que ficava na borda da mata onde se lançava atrás de pombões (Patagioenas picazuro). Na mesma época, Cassiano Fadel Ribas (com. pess.) mencionou história semelhante contada por funcionários e proprietários do município de Sengés – PR. O S. ornatus, simplesmente fazendo caça de espera, na borda da mata.
O mesmo estará ocorrendo em Morretes? Porém, com um diferencial que será acrescido, assim que eu confirmar a presença do gavião-de-penacho, nas áreas mencionadas e talvez o mais importante, conseguir um registro fotográfico deste comportamento.
Com as palavras do Sr. Jorge, que ficou de conversar com um dos responsáveis da área onde ocorreu a nidificação do S. ornatus, para obtenção de permissão de entrada, terminei o dia com um sorriso interior.

Final de mais uma fase de reconhecimento, agradeço aos amigos Jardel Roscamp e Kauê Cachuba de Abreu, pela companhia. Posso dizer que o Jardel obteve seu batismo em hawkwatching, com chave de ouro, localizou um gavião-pato (Spizaetus melanoleucus). Acrescento que muitos ornitólogos, ainda não tiveram o privilégio de ver está espécie voando livre na natureza.
Abraços aos irmãos e irmãs, da Primeira IEQ que encontramos em Morretes. Também, meus agradecimentos a Iara, que fez a apresentação do Sr. Jorge. Obrigado!
JESUS, OBRIGADO! Por mais um dia empolgante, depois de uma semana atarefada no trabalho. Certamente as forças foram renovadas! Obrigado, pela proteção, por nos livrar de acidentes ou infortúnios que pudessem estragar a alegria deste dia.



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Diário de campo - 07/12/14




07/12/2014 – Saída as 4h31min (horário solar)
Com o céu encoberto, mas com previsão de poucas nuvens e sol, segui sem perda de tempo para a Rodovia da Graciosa. No início da descida, a bela paisagem fez com que eu parasse para fotografar. Como anunciado em outra mensagem do Face, considero cada dia diferente do outro na Serra do Mar. Foram quase 30minutos tirando fotos, então, no futuro quando a fase de reconhecimento estiver encerrada e for iniciada a coleta de dados amostrais, certamente o tempo terá que ser aproveitado de outra maneira.



Prosseguindo, vou até o Recanto Bela Vista, deixo o carro e sigo a pé. Durante a caminhada, através da vocalização, registro a presença do gavião-caburé (Micrastur ruficollis). Apesar de ser difícil de ver é muito comum na serra, sendo mais detectável justamente pela vocalização, que emite com freqüência no amanhecer e entardecer, quando a luminosidade é fraca. No restante do dia é silencioso, um fantasma da mata.

Outra espécie que chamou minha atenção pelo canto foi o papa-taoca-do-sul (Pyriglena leucoptera), também muito comum, porém, desde que comecei o projeto não tinha deparado com ela. Ah! Matei a saudade, uma vez que por mais de dez anos trabalhando fora, no Japão e Porto Alegre, não escutava este canto da papa-taoca-do-sul.

Chegando ao local que queria, visualizo um casal de bem-te-vi-rajado (Myiodinaste maculatus). Até aí, nenhuma surpresa, mas eles estavam fazendo algo diferente. Estavam atacando com vigor um pica-pau-benedito (Melanerpes flavifrons) que escalava uma árvore. Chegaram até a bicar o pica-pau, alguém já registrou tal agressividade? Este pica-pau pode representar algum perigo para os filhotes do bem-te-vi-rajado, ou, ser um competidor voraz na questão alimentar?
Também visualizei o anambé-branco-de-bochecha-parda (Tytira inquisitor), enquanto procurava pelo alimento pousado no alto de um galho seco. Claro, havia outras espécies bem presentes, mas o que estou citando são aquelas que mais me chamaram atenção, pelo comportamento, ou simplesmente pelo tempo em que não as via. Quando minha atenção voltou ao objetivo de estar ali, olhei para uma área desmatada na paisagem e, sim, era mesmo o lugar onde estive uma semana atrás, Ponto Fratelli 1 (vide fotos).



Olhando bem, com o binóculo, fiquei feliz em poder ver a vegetação atrás do Ponto Fratelli 1. Visualizar ao vivo é diferente de olhar uma imagem de satélite, embora a tecnologia esteja fazendo coisas deslumbrantes. Na época do Rio Canoas, o Jorge Albuquerque sempre fazia o levantamento das imagens de satélite. Então, posso dizer duas coisas, primeiro que aprendi com ele a mapear o local que quero explorar. A segunda é que naquele tempo a imagem de satélite era “chapada”, agora disponho de imagens com profundidade de campo.
Outra coisa que tenho utilizado bastante é uma bússola para determinar as direções, assim, tenho idéia de onde estão os outros pontos de amostragem, além de poder plotar as direções tomadas pelos rapinantes quando os avisto.

Em se tratando de equipamento, vou aproveitar e faze um comentário da máquina fotográfica que adquiri a KODAK PIXPRO AZ501. Ela tem proporcionado as imagens que estou divulgando no meu Face. Com relação à paisagem tem se saído bem, permitindo que eu faça uma exposição no modo manual. Importante quando tiro fotos com vários pontos de luminosidade diferente. Nenhuma novidade pra quem lida com fotografias. Entretanto, como hawkwatcher, digo que a máquina foi reprovada. Por quê? Porque quando puxo o zoom máximo, ela perde o foco, e mesmo mantendo o disparador semi-apertado ela não consegue focar. Então, minhas chances de fotografar um gavião voando, com nitidez, diminuem bastante. Mas todas as máquinas tendem a perder o foco quando se puxa o zoom, demorando a estabilizar e encontrar o foco novamente. Verdade! Então, pesquisei na internet e encontrei as especificações da OLYMPUS SP100, com um dispositivo que chamaram de “EAGLE-EYE”. A grosso modo, o eagle-eye é uma espécie de mira, proporcionado pelo reflexo de um espelho. Sua funcionalidade é formar um ponto, que permite acompanhar o objeto que se quer fotografar sem perder o foco. Foi baseada em mira de armas, uma idéia simples que não existe em outras máquinas do gênero superzoom. O porém, é que ela não é vendida pelas lojas no Brasil, mas existem formas de aquisição.

O celular também tem sido muito útil. Como? Como relógio e principalmente gravador. Posso falar o horário, comportamento e etc, da ave de rapina, ou qualquer coisa que acredito valer a pena registrar, sem mais a necessidade do caderninho de campo.
Voltando, depois de algum tempo no Ponto Graciosa, segui em frente para localidade de Porto de Cima, em Morretes, onde aproveitei para fazer o café-da-manhã. Um bom pãozinho com mortadela e mussarela, acompanhado de coca-cola. Minha televisão, naquele momento, era a formação do Pico Marumbi, ou um pé de palmito onde algumas aves estavam se alimentado. 
Logo, fui para o Ponto Porto 1, que permite uma vista de 360 graus. Como gostaria de encontrar outros pontos iguais a este, principalmente para o lado do Rio Canasvieiras.
Fiquei das 8h22min até 9h30min, fazendo observações, o céu estava limpo, com nuvens envolvendo somente a porção mais alta da serra. Mesmo com condições favoráveis, registrei somente urubus (Coragyps atratus e Cathartes aura) e três gaviões-carijós (Rupornis magnirostris).
Posteriormente, fui até o Parque Estadual do Pau Oco, onde tomei um bom banho de rio antes de dirigir-me para o alto do Ponto Anhaia 1. Acrescento que não houve registro de rapinantes, porém, conheci o Sr. D (vou preservar o nome), morador da região que já tinha ouvido falar do japonês que está observando as aves de rapina.

O Sr. D, informou seu nome e disse que estava preso por caçar. Faço um parêntesis, existe a lei e ela deve ser cumprida para todos, porém, é uma pena que muitas vezes ela só funciona para prender aqueles que muitas vezes não tem recurso algum, deixando de fora os endinheirados que caçam por simples diversão. 

Como caçador, o Sr. D me falou de vários animais que existem na serra, inclusive onde existem jacutingas (Pipile jacutinga), espécie ameaçada que aparece no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná (Mikich e Bérnils, 2004), além de outras listas vermelhas, que vão se alimentar num araçazeiro.

Sobre gaviões, mencionou onde costuma escutar o gavião-relógio (Micrastur semitorquatus), descreveu a coragem do gavião-caburé (Micrastur ruficollis) que ataca espécies maiores. Mais importante, comentou onde encontro o gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus). Acredito na existência do S. ornatus em toda a serra (já existem registros fotográficos e sonoros), mas curiosamente é a quarta pessoa que aponta para a mesma localidade, duas são moradoras das proximidades do Parque Estadual do Pau Oco, uma mora na Estrada da Limeira e outro é um guia de aves.
Satisfeito em conhecer e conversar com o Sr. D, encerrei mais uma fase de reconhecimento. Deixo as fotos do Ponto Porto 1. Meus agradecimentos a JESUS, por tudo que tem feito na minha vida. OBRIGADO, JESUS!



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Diário de campo - 30/11/2014

Uma imagem da Serra do Mar, tirada da Rodovia da Graciosa


30/11/2014 – As 4h30 olhei pela janela e o zênite estava aberto com poucas nuvens, porém, o horizonte do lado leste mostrava um céu carrancudo, quase ameaçador. Encolhendo os ombros, me apressei com os preparativos para sair logo a campo, o que ocorreu às 5h36min.

Já havia analisado imagens de satélite durante os dois últimos dias, utilizando as ferramentas do Windons 8.1 Pro, que permite visualizar as imagens com profundidade de campo (3D – se eu estiver falando alguma asneira, peço que me corrijam). Então, tinha um alvo (local) bem estabelecido para chegar.

No início da Serra da Graciosa, havia uma garoa forte, mas conforme fui descendo a estrada, ela cessou. Então, fui surpreendido por belas paisagens que mostravam os topos de uma cadeia de montanhas. Como não parar o carro e tentar gravar a cena com uma máquina fotográfica? Uma pequena recordação, mesmo que não pudesse apanhar de completo o esplendor da natureza, com o canto das aves e a brisa refrescante que completavam o cenário.
Minha ação, logo atraiu a atenção de outras pessoas que também percorriam a Graciosa. Logo estava sendo imitado, algo típico do comportamento humano. Hora de sair de fininho, e seguir em frente!




Entrando em uma pequena estrada secundária, quase escondida pelas casas ao redor, percebo a companhia de outro carro pelo retrovisor. Como também não parou na última moradia, encosto e deixo que passe adiante. Repentinamente dou de cara com uma porteira, aberta pelo condutor do veículo que acabara de me passar. Sem demora, grito: - Bom dia! Conduzindo uma conversa “batuta”, sou informado que devo falar com o gerente da área para obter permissão para andar na fazenda.
Não tive dificuldade em conseguir o consentimento do gerente, e correndo para pegar os apetrechos dentro do carro, percebo os olhares atentos das pessoas que estavam no local. Eles olhavam para o bokuto (espada japonesa confeccionada em madeira para treino) que carregava em uma de minhas mãos.
- Incrivelmente aprendi que com ela posso quebrar a formalidade, basta dizer às pessoas que se trata de uma ferramenta para afastar as onças. De fato, pode funcionar como uma zagaia (lança utilizada pelos indígenas contra felinos), mas certamente não tenho esperança de vir a usá-la, nem quero!
Risadas escondidas no canto dos lábios, logo um atira: - Mas não tem perigo não, um amigo meu disse que passou debaixo de uma árvore com uma onça e ela ficou quieta!
Emendando: - Aqui, não tem onça não, mas nos grotões para onde vou daqui a pouco, ali sim. Lá, não ando sozinho, vou com o Oswaldo que conhece tudo.
Pronto, estava feito, em breve todos da pequena vila, estarão comentando do japonês que anda com uma espada de madeira atrás das aves de rapina. Assim, espero não ter dificuldades em me apresentar aos proprietários locais.
Explorei toda área, percorrendo uma trilha de mais ou menos 1.800metros. Enquanto olhava atentamente e analisava as possibilidades, chegou o Sr. Oswaldo com mais dois. Eles estavam indo para os grotões.
Informei que dentro da trilha, as possibilidades de ver algum gavião seria muito pouca. Então, iria procurar um ponto elevado e aberto.
Fiz isto, e descobri uma vista magnífica que proporciona um ângulo de 180 graus da Serra do Mar. Não consegui capturar esta vista com a máquina fotográfica, porém é certo que ali, está estabelecido mais um ponto amostral que denominei “Fratelli 1”.



Com o céu nublado, já havia garoado, depois de pouco mais de meia hora, estava decidido a voltar pro carro. 
Encerrei o reconhecimento conversando com o gerente, solicitando permissão para regressar. A verdade é que toda a família dele já estava envolvida, ainda mais após uma das crianças ter tido a oportunidade de observar um acauã (Herpetotheres cacchinhans), ver foto, com o binóculo.
O acauã estava pousado, encolhido no galho de uma embaúba (Cecropia sp.), foi possível ver sua plumagem molhada. Realmente, seria muito difícil esperar ver gaviões grandes voando.
Antes de deixar a propriedade, entretanto, fui fotografar uma cascata a margem do caminho da sede. 
Com um movimento grande de carros chegando à vila, decidi retornar a Curitiba, feliz por ter encontrado mais um ponto de observação para o Projeto de Pesquisa das Aves de Rapina da Serra do Mar Paranaense. 
AGRADEÇO A DEUS, porque, caso eu chegasse noutro momento, teria dado de cara com uma porteira fechada, sem a chance de falar e obter a permissão para entrar naquela fazenda. Também por poder contemplar a natureza que Ele criou, em mais um dia de folga!
Romanos 1.20 “Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas...”



Falcão acauã


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Diário de campo - 25/11/2014

Dia 25/11/2014 - O dia amanheceu com muitas nuvens sobre Curitiba, fazendo com que desistisse de subir o Morro do Canal, em Piraquara. Consultando o clima de Morretes, a previsão mostrava céu aberto (não sei aonde!) com formação de nuvens no decorrer da manhã. Então, decidi que descer seria a melhor opção. Saí às 5h15min, com uma chuva fraca, prosseguindo pela BR 116 até a Rodovia da Graciosa. Embora estivesse bem nublado, não havia cerração no início da descida da serra. Abri a janela do carro, para respirar o ar e sentir o cheiro da mata úmida, algo que me fez pensar nas paisagens frias européias. Disseram-me, que na Holanda, na maior parte do ano, o céu fica encoberto com garoa. A paisagem que contemplava, entretanto, era da nossa Floresta Atlântica, rica em espécies vegetais. Também, maravilhosamente ruidosa com o canto de diversas espécies de aves, dentre elas, as mais expressivas que pude identificar foram: sabiá-una (Turdus flavipes), sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris), juruviara (Vireo chivi), capitão-de-saíra (Attila rufus), tangará (Chiroxiphia caudata) e pula-pula-ribeirinho (Myiothlypis rivularis)


Fiz uma rápida parada no Recanto Grota Funda, onde anteriormente observei um casal de gavião-pombo-grande (Pseudastor polionotus) e gavião-de-cauda-curta (Buteo brachyurus), porém, nada!
Segui em frente até Porto de Cima, deparando-me com um cenário de nuvens baixas que dificultariam as observações no ponto denominado de Porto 1. Após pensar um pouco, optei em prosseguir para o próximo ponto amostral, Limeira 1, situado na Estrada da Limeira.
Ao chegar, fui surpreendido por uma vocalização harmoniosa, que me fez mergulhar nas recordações depositadas em algum lugar do meu cérebro. Enquanto tentava lembrar qual espécie estaria emitindo aquele canto, fiz uma busca rápida com o binóculo, e, sim, lá estava um garrinchão-de-bico-grande (Cantorchilus longirostris). Talvez seja melhor dizer que é um parente da corruíra.
Em um relance, outra espécie desperta minha atenção, era um macho de tié-sangue (Ramphocelus bresilius).


Deixando os Passeriformes, passei a me preocupar em observar as aves de rapina. Eram, 8h15min, podia ver o cume da primeira cadeia de montanhas do lado oriental, mas as nuvens impediam que enxergasse a Serra da Prata.

Caminhei um pouco, vi dois moradores locais empenhados no plantio de palmeiras e decidi fazer algumas perguntas. Eles confirmaram o que era esperado, já tinham visto gaviões grandes, pretos e brancos voando pelo vale. Mas durante uma hora, somente fui atazanado por um pequeno grupo de gralhas-azuis (Cyanocorax caeruleus), que teimavam em denunciar a minha presença, emitindo vocalizações de alerta.


Encerrei as buscas dos raptores e fui fazer o reconhecimento de uma nova área, situada na localidade de Floresta, cerca de 2km em linha reta de onde estava. Porém, para chegar lá, tive que retornar para a BR 277, passar pela entrada da primeira estrada secundária, e então, entrar na segunda.
A localidade de Floresta pertence ao município de Morretes, estando dentro de um vale, onde do seu lado oriental esta a Serra da Prata, com seu cume atingindo 1.502metros de altitude. Já do lado ocidental, ainda, preciso descobrir qual o nome que leva a pequena serra. Entretanto, vale registrar que é justamente a face posterior da montanha que avistava do ponto Limeira 1.
O local também chama atenção por ter sido atingido, pelas fortes precipitações que caíram em março de 2011, que provocaram um grande movimento de massas – “transporte coletivo de material rochoso e/ou de solo, onde a ação da gravidade tem papel preponderante, podendo ser potencializado, ou não, pela ação da água (Guerra e Marçal, 2006)” - das encostas da Serra da Prata, alterando significativamente a paisagem e desabrigando os moradores.

Fui com o veículo até o fim da estrada secundária, chegando na propriedade do Zilla. Daí pra frente, o percurso foi a pé, por uma trilha bem aberta, mas com pouca visão do céu. Encontrei alguns casebres pelo caminho, merecendo destacar a presença de uma atiradeira (estilingue) tamanho família, pendurado em uma parede. Aquilo, certamente não era para sabiás. Outro achado foi um molinete em bom estado, na última propriedade que consegui alcançar, antes de decidir retornar. Nesta, também pude contemplar de uma vista razoável, mas não creio que o esforço seja compensatório para estabelecer ali, um ponto amostral. Talvez o melhor seja ficar na parte baixa, junto às margens do rio Jacareí.




Antes de retornar para Curitiba, já tendo passado pelo centro de Morretes, explorei mais uma estrada secundária, chegando a um local que estabeleci com ponto Porto 2 (Foto Panorâmica). A distância para o ponto Porto 1, é de um pouco mais de 2km. Sua vantagem é que permite visualizar uma vasta extensão sobre a vegetação que não pode ser observada de modo satisfatório a Sudoeste do ponto Porto 1.
Mesmo não tendo observado nenhum gavião, o reconhecimento de dois locais, mais a obtenção de outra informação que aponta para existência do gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus) em uma área específica, fez com que esta fase de campo fosse proveitosa.
Não deixo de agradecer a DEUS, por ter me guardado de acidentes e pela oportunidade de contemplar, mais uma vez, a natureza na Serra do Mar Paranaense.



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