Diário de campo - 25/11/2014

Dia 25/11/2014 - O dia amanheceu com muitas nuvens sobre Curitiba, fazendo com que desistisse de subir o Morro do Canal, em Piraquara. Consultando o clima de Morretes, a previsão mostrava céu aberto (não sei aonde!) com formação de nuvens no decorrer da manhã. Então, decidi que descer seria a melhor opção. Saí às 5h15min, com uma chuva fraca, prosseguindo pela BR 116 até a Rodovia da Graciosa. Embora estivesse bem nublado, não havia cerração no início da descida da serra. Abri a janela do carro, para respirar o ar e sentir o cheiro da mata úmida, algo que me fez pensar nas paisagens frias européias. Disseram-me, que na Holanda, na maior parte do ano, o céu fica encoberto com garoa. A paisagem que contemplava, entretanto, era da nossa Floresta Atlântica, rica em espécies vegetais. Também, maravilhosamente ruidosa com o canto de diversas espécies de aves, dentre elas, as mais expressivas que pude identificar foram: sabiá-una (Turdus flavipes), sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris), juruviara (Vireo chivi), capitão-de-saíra (Attila rufus), tangará (Chiroxiphia caudata) e pula-pula-ribeirinho (Myiothlypis rivularis)


Fiz uma rápida parada no Recanto Grota Funda, onde anteriormente observei um casal de gavião-pombo-grande (Pseudastor polionotus) e gavião-de-cauda-curta (Buteo brachyurus), porém, nada!
Segui em frente até Porto de Cima, deparando-me com um cenário de nuvens baixas que dificultariam as observações no ponto denominado de Porto 1. Após pensar um pouco, optei em prosseguir para o próximo ponto amostral, Limeira 1, situado na Estrada da Limeira.
Ao chegar, fui surpreendido por uma vocalização harmoniosa, que me fez mergulhar nas recordações depositadas em algum lugar do meu cérebro. Enquanto tentava lembrar qual espécie estaria emitindo aquele canto, fiz uma busca rápida com o binóculo, e, sim, lá estava um garrinchão-de-bico-grande (Cantorchilus longirostris). Talvez seja melhor dizer que é um parente da corruíra.
Em um relance, outra espécie desperta minha atenção, era um macho de tié-sangue (Ramphocelus bresilius).


Deixando os Passeriformes, passei a me preocupar em observar as aves de rapina. Eram, 8h15min, podia ver o cume da primeira cadeia de montanhas do lado oriental, mas as nuvens impediam que enxergasse a Serra da Prata.

Caminhei um pouco, vi dois moradores locais empenhados no plantio de palmeiras e decidi fazer algumas perguntas. Eles confirmaram o que era esperado, já tinham visto gaviões grandes, pretos e brancos voando pelo vale. Mas durante uma hora, somente fui atazanado por um pequeno grupo de gralhas-azuis (Cyanocorax caeruleus), que teimavam em denunciar a minha presença, emitindo vocalizações de alerta.


Encerrei as buscas dos raptores e fui fazer o reconhecimento de uma nova área, situada na localidade de Floresta, cerca de 2km em linha reta de onde estava. Porém, para chegar lá, tive que retornar para a BR 277, passar pela entrada da primeira estrada secundária, e então, entrar na segunda.
A localidade de Floresta pertence ao município de Morretes, estando dentro de um vale, onde do seu lado oriental esta a Serra da Prata, com seu cume atingindo 1.502metros de altitude. Já do lado ocidental, ainda, preciso descobrir qual o nome que leva a pequena serra. Entretanto, vale registrar que é justamente a face posterior da montanha que avistava do ponto Limeira 1.
O local também chama atenção por ter sido atingido, pelas fortes precipitações que caíram em março de 2011, que provocaram um grande movimento de massas – “transporte coletivo de material rochoso e/ou de solo, onde a ação da gravidade tem papel preponderante, podendo ser potencializado, ou não, pela ação da água (Guerra e Marçal, 2006)” - das encostas da Serra da Prata, alterando significativamente a paisagem e desabrigando os moradores.

Fui com o veículo até o fim da estrada secundária, chegando na propriedade do Zilla. Daí pra frente, o percurso foi a pé, por uma trilha bem aberta, mas com pouca visão do céu. Encontrei alguns casebres pelo caminho, merecendo destacar a presença de uma atiradeira (estilingue) tamanho família, pendurado em uma parede. Aquilo, certamente não era para sabiás. Outro achado foi um molinete em bom estado, na última propriedade que consegui alcançar, antes de decidir retornar. Nesta, também pude contemplar de uma vista razoável, mas não creio que o esforço seja compensatório para estabelecer ali, um ponto amostral. Talvez o melhor seja ficar na parte baixa, junto às margens do rio Jacareí.




Antes de retornar para Curitiba, já tendo passado pelo centro de Morretes, explorei mais uma estrada secundária, chegando a um local que estabeleci com ponto Porto 2 (Foto Panorâmica). A distância para o ponto Porto 1, é de um pouco mais de 2km. Sua vantagem é que permite visualizar uma vasta extensão sobre a vegetação que não pode ser observada de modo satisfatório a Sudoeste do ponto Porto 1.
Mesmo não tendo observado nenhum gavião, o reconhecimento de dois locais, mais a obtenção de outra informação que aponta para existência do gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus) em uma área específica, fez com que esta fase de campo fosse proveitosa.
Não deixo de agradecer a DEUS, por ter me guardado de acidentes e pela oportunidade de contemplar, mais uma vez, a natureza na Serra do Mar Paranaense.



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