Diário de Campo – 28/12/2014: Eram 2h40min quando acordei sem o despertador, embora pudesse voltar a dormir mais um pouco, não o fiz. Então, tratei logo de preparar o que faltava para mais um dia de campo, se bem que tudo já estava organizado desde a noite anterior. Os mantimentos que seriam entregues estavam dentro do carro, bem como o binóculo, máquina fotográfica, bússola, pederneira, botas, mochila e roupas. Restava pegar os frios, frutas e água. Oração feita, hora de partir até a casa do Hudson G. Santos (fotógrafo de natureza). Havia marcado de estar na casa dele às 4h30min.
Depois, retornando a casa de meus pais, aguardamos a chegada do Jardel Roscamp (professor e pastor da Primeira Igreja do Evangelho Quadrangular).
Pausa! Por que estou descrevendo o que fazem as pessoas que participaram desta etapa de reconhecimento de campo? Para mostrar que o projeto que idealizo, pode envolver profissionais de todas as áreas e pessoas de todas as classes, pois cada um pode trazer contribuições importantes para algo que não tem como alvo, ser simplesmente um projeto de pesquisa de uma determinada espécie.
Este dia, também não seria apenas para poder avaliar uma nova área, mas para assistir alguns moradores locais. Verdadeiramente, era o principal objetivo do dia.
Após seguir pela BR 277, entramos na Estrada da Limeira, curiosamente na imagem do Google, ela aparece como Rodovia Governador Mário Covas???
Visivelmente havia sinais de que havia chovido bastante naquela região, uma vez que a estrada estava bem pior que em outros tempos.
O Hudson alegrou-nos no caminho, compartilhando suas experiências vividas fotografando animais, como onças e harpias. Entretanto, naquele dia, ele iria viver uma experiência diferente de mochileiro, levando mantimentos para pessoas que nunca viu.
Foi com este espírito que deixamos o carro, as margens de um afluente do Rio Canavieiras.
Tira bota coloca bota, e o Jardel já estava do outro lado do rio. Pior para nós, quero dizer, eu e o Hudson, que tivemos que fazer a travessia carregando um engradado cheio de alimentos.
Mas feita a divisão em três, as coisas ficaram mais fáceis e felizmente não tivemos que carregar tudo até o final da trilha, pois a pessoa a quem seria entregue, estava passando os dias numa casa mais próxima. Quando falo felizmente, preciso acrescentar que mesmo sendo um pouco mais de 8 horas (horário solar), estávamos transpirando como nunca com o calor que já estava fazendo.
Os mantimentos, mais uma vez foram fornecidos pela Ação Social da Primeira Igreja do Evangelho Quadrangular (DEIXO MEU MUITO OBRIGADO A AÇÃO SOCIAL E A PRIMEIRA IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR). Foram entregues ao Adenisio e sua irmã Anselma. Ele mora juntamente com sua mãe, um de seus irmãos e a caçula da família, que calculo que tenha entre dois anos e meio a três (não estava presente). Sua irmã Anselma, estava ali para passar o final de ano juntamente com os dois filhos e esposo. Em determinado momento, achei que estava entregando os mantimentos a uma família errada, pois havia uma pick up, logo ao lado. Posteriormente, ficamos sabendo que pertencia a dona de toda área. Com a permissão da família, o Pastor Jardel conduziu uma oração a Deus para abençoar a todos daquela casa. Também aproveitamos para entregar uma Bíblia a Anselma, que mesmo sendo evangélica, disse não possuir um exemplar da Palavra de Deus (OBRIGADO AO PASTOR JOSIEL, QUE FEZ A DOAÇÃO DE VÁRIAS BÍBLIAS PARA SEREM ENTREGUES).
Após um período de conversas, descobrimos que a comunidade daquela região, Limeira – Município de Guaratuba, é constituída por vários parentes. Também, obtive a informação de que alguns gaviões haviam sido vistos no dia anterior, mas pelas descrições se tratavam de carijós (Rupornis magnirostris). Plantada a semente, hora de partir, ficando para outra oportunidade conhecer a cachoeira que é uma das atrações do local.
Próxima parada uma área no lado oriental do Rio Cubatãozinho.
Gavião-pega-macaco |
Eram pouco mais de 9h00 o céu estava azul, com o sol brilhando e a temperatura subindo. No horizonte vários urubus voavam nas correntes térmicas. Enquanto o Jardel e o Hudson falavam, passei a prestar cada vez mais atenção no céu. Encontrávamos no meio de um vale com montanhas distantes à direita, na esquerda, havia uma plantação de bananeiras, o rio Canavieiras e outra cadeia de montanhas. Repentinamente observei uma silueta por frações de segundos, suficiente para meu cérebro dizer que era de gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus). Avancei o veículo, procurando uma fresta entre as folhas das bananeiras, e finalmente, gritei: ― É um gavião-pega-macaco!
Parando o carro, desci e pedi pelo binóculo, tratando logo de acompanhar o vôo lento, característico da espécie. Meus companheiros continuaram dentro do carro, inertes com o calor. Mas conforme eu chamava-lhes a atenção, eles foram descendo vagarosamente. Entreguei a máquina fotográfica ao Hudson e o binóculo para o Jardel, explicando-lhe como diferenciar o Spizaetus tyrannus dos urubus.
― Ah! Estes dois não podem entender como me senti ao ver aquele gavião. Porém, talvez possa explicar usando as palavras escritas por Wilson (1992):
― “Ninguém olha duas vezes para um pardal ou um esquilo, e nem uma única vez para um dente-de-leão; mas um falcão-peregrino ou um leão-das-montanhas são experiências marcantes na vida.”
Ainda:
― “Os carnívoros superiores, incluindo águias, tigres e os grandes tubarões brancos, devido à posição que ocupam no ápice da teia alimentar, estão predestinados a ser grandes em tamanho e escassos em número. Eles vivem com uma parcela tão diminuta da energia disponível para a vida que estão sempre costeando o limiar da extinção, sendo os primeiros a sofrer quando o ecossistema ao seu redor começa a se deteriorar.”
Continuei acompanhando o gavião, que voava na frente de um morro. Depois, ele passou para uma área entre o morro e uma montanha maior (ver foto, para melhor compreensão do local). Em determinado momento ele ganhou mais altura, sempre sobrevoando a mesma região, vindo a ser perdido de vista entre as copas das árvores. Horário do contato 9h24min.
Retornamos para o carro e prosseguimos até chegarmos à margem do Rio Cubatãozinho. Iríamos fazer uma caminhada atravessando o rio a pé. O Hudson preferiu ficar. Então, seguimos somente eu e o Jardel. Cruzamos o rio Cubatãozinho em dois trechos, caminhando sobre o leito pedregoso. Antes de começarmos a caminhar dentro da mata, aproveitamos para molhar a cabeça.
― Que delícia poder se refrescar em um rio de águas limpas! Também, cheio de peixes.
Vale registrar que contemplamos uma praia com areia, muito boa para levar a família e amigos. Entretanto, isto deve ser feito em dias de tempo bom, pois em dias de chuva, as águas que descem pelas encostas da Serra da Prata devem fazer tudo submergir.
Posteriormente, andando por uma trilha, encontramos mais um pequeno rio repleto de lambaris, pequenos cascudos e outras espécies, ideal para uma pesca com varinha.
Enquanto olhávamos, um senhor veio caminhando em nossa direção, era o Sr. Renê. Após conversarmos um pouco, ele acabou nos conduzindo até a casa do Sr. Alfredo, responsável pela propriedade. No caminho, tivemos que atravessar mais dois rios largos, o maior deles é conhecido como Rio dos Henrique.
Com tantos rios, eu e o Jardel desistimos de ficar tirando as botas para atravessar, e, acabamos entrando na água do jeito que estávamos.
Quando chegamos à casa do Sr. Alfredo, ficamos sabendo que no período das chuvas (verão), há o risco de ficar ilhado. Prova disto era uma marca na parede que se estendia como uma linha, mais ou menos, à altura de 1,60metros. Ela foi feita durante uma enchente, que trouxe além de muitas águas, algumas serpentes como jararacas e jararacuçus.
Também ficamos sabendo que à noite, uma onça-parda circula pelas trilhas que passamos (observamos uma pegada no caminho). Quanto aos gaviões, foi dito que os grandes ocorrem com baixa freqüência, sendo alguns brancos. Serão os Spizaetus melanoleucus?
Interessante que eu, ao descrever um gavião-de-penacho, o Sr. Alfredo mencionou que já o havia visto, porém, falou cinza, muito grande. Não pode ser uma águia-cinzenta, mas se não for invenção, seria uma harpia? Quem sabe? Seja como for, o importante é que obtivemos permissão para regressar, inclusive para pescar lambaris.
Embora não tenha encontrado nenhum ponto alto e aberto, para observar as aves de rapina, certamente vou querer voltar, pasmem, para pescar lambaris.
Regressamos, cansados e exauridos pelo forte calor, o Hudson já estava preocupado, pois acabamos passando um pouco do horário marcado. O atraso deveu-se ao tempo conversando com o Sr. Alfredo, sua esposa e o Sr. Renê, além das muitas pausas para refrescar a cabeça nas águas dos rios.
No caminho para a BR 277, pegamos chuva e em certo momento, um raio caiu sobre uma encosta bem acima do veículo. Também, avistamos galhos caídos sobre a estrada. Já no asfalto, a caminho de Morretes, deparamos com mais árvores caídas e folhas espalhadas, sinal de que um vendaval havia atingido a região. Grato Jesus, por nos guardar de acidentes!
Nossa aventura estava chegando ao final, mas não poderíamos deixar de tomar sorvete na localidade de São João da Graciosa, e conversar com o Sr. Jorge. Yara Toyoshima, estamos virando fregueses da sorveteria!
Agradeço ao Senhor Jesus, por mais esta oportunidade de levar avante o reconhecimento das áreas para o Projeto de Pesquisa das Aves de Rapina da Serra do Mar Paranaense e por poder entregar mantimentos a mais uma família e semear sua Palavra com gestos e oração. Agradecimentos, também, a Mariamar Silva, pastor Josiel da Silva Martins, pelos incentivos. Também, aos companheiros desta viagem, Hudson G. Santos e Jardel Roscamp. OBRIGADO JESUS!
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