Diário de campo - 07/12/14




07/12/2014 – Saída as 4h31min (horário solar)
Com o céu encoberto, mas com previsão de poucas nuvens e sol, segui sem perda de tempo para a Rodovia da Graciosa. No início da descida, a bela paisagem fez com que eu parasse para fotografar. Como anunciado em outra mensagem do Face, considero cada dia diferente do outro na Serra do Mar. Foram quase 30minutos tirando fotos, então, no futuro quando a fase de reconhecimento estiver encerrada e for iniciada a coleta de dados amostrais, certamente o tempo terá que ser aproveitado de outra maneira.



Prosseguindo, vou até o Recanto Bela Vista, deixo o carro e sigo a pé. Durante a caminhada, através da vocalização, registro a presença do gavião-caburé (Micrastur ruficollis). Apesar de ser difícil de ver é muito comum na serra, sendo mais detectável justamente pela vocalização, que emite com freqüência no amanhecer e entardecer, quando a luminosidade é fraca. No restante do dia é silencioso, um fantasma da mata.

Outra espécie que chamou minha atenção pelo canto foi o papa-taoca-do-sul (Pyriglena leucoptera), também muito comum, porém, desde que comecei o projeto não tinha deparado com ela. Ah! Matei a saudade, uma vez que por mais de dez anos trabalhando fora, no Japão e Porto Alegre, não escutava este canto da papa-taoca-do-sul.

Chegando ao local que queria, visualizo um casal de bem-te-vi-rajado (Myiodinaste maculatus). Até aí, nenhuma surpresa, mas eles estavam fazendo algo diferente. Estavam atacando com vigor um pica-pau-benedito (Melanerpes flavifrons) que escalava uma árvore. Chegaram até a bicar o pica-pau, alguém já registrou tal agressividade? Este pica-pau pode representar algum perigo para os filhotes do bem-te-vi-rajado, ou, ser um competidor voraz na questão alimentar?
Também visualizei o anambé-branco-de-bochecha-parda (Tytira inquisitor), enquanto procurava pelo alimento pousado no alto de um galho seco. Claro, havia outras espécies bem presentes, mas o que estou citando são aquelas que mais me chamaram atenção, pelo comportamento, ou simplesmente pelo tempo em que não as via. Quando minha atenção voltou ao objetivo de estar ali, olhei para uma área desmatada na paisagem e, sim, era mesmo o lugar onde estive uma semana atrás, Ponto Fratelli 1 (vide fotos).



Olhando bem, com o binóculo, fiquei feliz em poder ver a vegetação atrás do Ponto Fratelli 1. Visualizar ao vivo é diferente de olhar uma imagem de satélite, embora a tecnologia esteja fazendo coisas deslumbrantes. Na época do Rio Canoas, o Jorge Albuquerque sempre fazia o levantamento das imagens de satélite. Então, posso dizer duas coisas, primeiro que aprendi com ele a mapear o local que quero explorar. A segunda é que naquele tempo a imagem de satélite era “chapada”, agora disponho de imagens com profundidade de campo.
Outra coisa que tenho utilizado bastante é uma bússola para determinar as direções, assim, tenho idéia de onde estão os outros pontos de amostragem, além de poder plotar as direções tomadas pelos rapinantes quando os avisto.

Em se tratando de equipamento, vou aproveitar e faze um comentário da máquina fotográfica que adquiri a KODAK PIXPRO AZ501. Ela tem proporcionado as imagens que estou divulgando no meu Face. Com relação à paisagem tem se saído bem, permitindo que eu faça uma exposição no modo manual. Importante quando tiro fotos com vários pontos de luminosidade diferente. Nenhuma novidade pra quem lida com fotografias. Entretanto, como hawkwatcher, digo que a máquina foi reprovada. Por quê? Porque quando puxo o zoom máximo, ela perde o foco, e mesmo mantendo o disparador semi-apertado ela não consegue focar. Então, minhas chances de fotografar um gavião voando, com nitidez, diminuem bastante. Mas todas as máquinas tendem a perder o foco quando se puxa o zoom, demorando a estabilizar e encontrar o foco novamente. Verdade! Então, pesquisei na internet e encontrei as especificações da OLYMPUS SP100, com um dispositivo que chamaram de “EAGLE-EYE”. A grosso modo, o eagle-eye é uma espécie de mira, proporcionado pelo reflexo de um espelho. Sua funcionalidade é formar um ponto, que permite acompanhar o objeto que se quer fotografar sem perder o foco. Foi baseada em mira de armas, uma idéia simples que não existe em outras máquinas do gênero superzoom. O porém, é que ela não é vendida pelas lojas no Brasil, mas existem formas de aquisição.

O celular também tem sido muito útil. Como? Como relógio e principalmente gravador. Posso falar o horário, comportamento e etc, da ave de rapina, ou qualquer coisa que acredito valer a pena registrar, sem mais a necessidade do caderninho de campo.
Voltando, depois de algum tempo no Ponto Graciosa, segui em frente para localidade de Porto de Cima, em Morretes, onde aproveitei para fazer o café-da-manhã. Um bom pãozinho com mortadela e mussarela, acompanhado de coca-cola. Minha televisão, naquele momento, era a formação do Pico Marumbi, ou um pé de palmito onde algumas aves estavam se alimentado. 
Logo, fui para o Ponto Porto 1, que permite uma vista de 360 graus. Como gostaria de encontrar outros pontos iguais a este, principalmente para o lado do Rio Canasvieiras.
Fiquei das 8h22min até 9h30min, fazendo observações, o céu estava limpo, com nuvens envolvendo somente a porção mais alta da serra. Mesmo com condições favoráveis, registrei somente urubus (Coragyps atratus e Cathartes aura) e três gaviões-carijós (Rupornis magnirostris).
Posteriormente, fui até o Parque Estadual do Pau Oco, onde tomei um bom banho de rio antes de dirigir-me para o alto do Ponto Anhaia 1. Acrescento que não houve registro de rapinantes, porém, conheci o Sr. D (vou preservar o nome), morador da região que já tinha ouvido falar do japonês que está observando as aves de rapina.

O Sr. D, informou seu nome e disse que estava preso por caçar. Faço um parêntesis, existe a lei e ela deve ser cumprida para todos, porém, é uma pena que muitas vezes ela só funciona para prender aqueles que muitas vezes não tem recurso algum, deixando de fora os endinheirados que caçam por simples diversão. 

Como caçador, o Sr. D me falou de vários animais que existem na serra, inclusive onde existem jacutingas (Pipile jacutinga), espécie ameaçada que aparece no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná (Mikich e Bérnils, 2004), além de outras listas vermelhas, que vão se alimentar num araçazeiro.

Sobre gaviões, mencionou onde costuma escutar o gavião-relógio (Micrastur semitorquatus), descreveu a coragem do gavião-caburé (Micrastur ruficollis) que ataca espécies maiores. Mais importante, comentou onde encontro o gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus). Acredito na existência do S. ornatus em toda a serra (já existem registros fotográficos e sonoros), mas curiosamente é a quarta pessoa que aponta para a mesma localidade, duas são moradoras das proximidades do Parque Estadual do Pau Oco, uma mora na Estrada da Limeira e outro é um guia de aves.
Satisfeito em conhecer e conversar com o Sr. D, encerrei mais uma fase de reconhecimento. Deixo as fotos do Ponto Porto 1. Meus agradecimentos a JESUS, por tudo que tem feito na minha vida. OBRIGADO, JESUS!



Nenhum comentário:

Postar um comentário